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terça-feira, 26 de março de 2024

 Curso intensivo em relações internacionais:


Para presidentes, embaixadores e reis.


Para estabelecer regras comuns, compreender as forças políticas, económicas, sociais e culturais como diversas, é preciso compreender o discurso, tendo em conta o interior, o subjetivo dos outros, se não, podemos estar a falar ao vento, porque o a compreensão pode ser igual em alguns lugares, mas em outros, uma palavra, uma imagem, um movimento fora da compreensão do outro, pode colocar tudo a perder.

  Charaudeau (2010) resume sua proposta: poder discutir as ideias que são objeto de debate, dizer qual é o quadro teórico em que nos inscrevemos. O meu é, numa perspectiva de análise do discurso, o problema do quadro de influência definido em vários escritos e contentar-me-ei em resumir aqui muito brevemente. Um problema de influência baseia-se em quatro princípios:

1. Um princípio de alteridade que diz, numa filiação fenomenológica, que a consciência da existência de si depende da percepção da existência do outro e do seu olhar; não existe “eu sem você”, que levo para o campo da linguagem, E. Benveniste torna-se não “eu sem você” e vice-versa; (Existe uma relação única, afirmo sem Tu-Estado, a relação é: só existe porque você existe). Diz ainda Emília Mendes que este princípio significa: “Quem sou eu para me dirigir a esses” (Mendes, 2009), ou seja, o acto de comunicação é um processo de troca entre dois parceiros que devem ser reconhecidos ao mesmo tempo semelhantes (devem concordam sobre o significado do que dizem) e diferentes (suas posições são diferentes de enunciador/enunciatário e mantêm intenções diferentes). Cada parceiro deve envolver-se num reconhecimento do outro processo. (Mendes, 2009). Ex: Os Estados devem reconhecer-se uns aos outros.

ii. Um princípio de influência propriamente dito que diz que o outro é ameaçado em pelo menos uma questão (a síndrome de Montesquieu) - neste caso, o sujeito falante deve tentar fazer com que o outro entre em seu universo de discurso; (O outro-eu deve fazer com que o outro você o entenda, trazendo-o para o seu universo, retirando o máximo de ruído (Pinto, 2008) possível, e então eles poderão compreender o cenário internacional, Mendes (2009 ) acrescenta que o sujeito enunciador visa influenciar o parceiro, é fazê-lo agir, é guiar o seu pensamento, é emocioná-lo).

iii. Princípio de regulação, pode assumir que o outro tem, por si só, um projeto de influência que exige reuniões periódicas e isso a priori. Obriga o sujeito falante a colocar a questão: O que fazer para continuar a troca - Como gerir, prevenir ou explorar os riscos de confronto ou ruptura inerentes a cada troca é o papel da regulação do discurso cujo propósito é garantir a continuidade da troca (ou quebra de set): respeito ao turno de fala (tempo de cada locutor falar), aceitação ou rejeição da fala do outro, valorização ou depreciação do parceiro (Mendes, 2009).

4. Princípio da relevância que, segundo Sperber  Wilson diz que devemos tentar compreender o mundo e que para isso, os dois parceiros da linguagem agem recorrendo a ambientes discursivos supostamente partilhados. Mendes diz que “os enunciados devem ser adequados ao seu contexto e à sua finalidade (Máximo conversacionais- Grice) (MENDES, 2009; Charaudeau, 2007, p.243). (Esta é também a teoria do dialogismo baktiniano).


Para compreender a dialógica Bakhtin (1992), a enunciação é produto da interação de dois indivíduos socialmente organizados, pois sua natureza é social. A enunciação não existe fora de um contexto sócio-ideológico em que cada falante tem um “horizonte social” bem definido, desenhado e direcionado para um salão social também definido. Portanto, o enunciado vem de alguém e se destina a outro. Qualquer enunciado propõe uma réplica, uma reação. Entende-se que os atores devem tentar compartilhar seus mundos, mas tentar compartilhar conceitos, símbolos que pareciam idênticos, mas que deveriam passar pela eliminação de ruídos, para que o diálogo não ficasse emperrado e continuasse em movimento.

  As relações à direita passam por esses princípios, não exaustivos, mas são um bom ponto de partida para o diálogo. É uma troca entre sujeitos, sobre um objeto, e um diálogo permanente, porque está em constante movimento, as idades são flechas vemos que os tempos são encurtados, parece que são até apocalípticos, entende-se que precisamos estar vigilantes e não perder tempo, estamos sempre resolvendo conflitos e interesses antigos e novos na lei.

Charaudeau (2007) coloca alguns problemas para os quais existe essa troca entre sujeitos-atores: a) Como entrar em contato com o outro? B) Como impor sua pessoa falando sujeito ao outro? C) Jogando o outro? d) Como organizar a descrição do mundo que propõe/impõe outro? (Charadeau, 2007, p.244).

Quando entramos em contato (ver item (a) acima), o que buscamos é adesão a padrões, uma forma de contrato entre sujeitos, a adesão vem pelo convencimento através do discurso, o discurso entre sujeitos que buscam relacionamento. Charadeau traz este esclarecimento destes problemas:

   Entrar em contato com o outro é a perspectiva de um processo de enunciação que consiste em: (a) justificar porque toma a palavra, pois falar é um ato de exclusão do outro (quando um fala, o outro não fala) é legítimo e ( b) estabelecer um certo tipo de relação entre si que lhe garanta um lugar. Isto corresponde ao processo regulatório (Legitimidade) acima... O objetivo deste processo é a adesão às normas sociais de comportamento. (Charaudeau, 2007, p.244).


Ele continua esclarecendo os pontos de como estabelecer esse intercâmbio entre os sujeitos:

A. “A questão de impor a sua pessoa falante ao outro responde à necessidade que o sujeito falante tem a ver com que seja reconhecido como uma pessoa digna de ser ouvida (ou lida) ou porque consideramos credível, seja porque podemos dar sua confiança, ou porque ela é um modelo carismático." (Charaudeau, 2007). Neste momento surge uma necessidade de inclusão do outro, uma necessidade de representação, do “eu” para que o outro, “você”, possa me compreender e compreender esse diálogo entre os sujeitos. Nesse ponto também se vê a questão do imaginário, questão levantada pelo filósofo durante sua visita ao Brasil em 2011, na UFMG. O imaginário estará presente no espaço interno dos sujeitos, enquanto no seu espaço externo estarão seus conceitos, símbolos estáticos. Você deve entrar no espaço interno do outro se quisermos conversar e convencê-lo do nosso ponto de vista. O Movimento estará no nível das emoções, do pathos, como entrar no intuitivo direito, voltar e compreender o objeto por dentro e não apenas por fora.

B. Prossegue que a questão de “como brincar com o outro é o objetivo que o sujeito falante pode ter para fazer com que esse outro não faça reflexões sobre a fala em questão e se deixe levar pelos movimentos (grifo meu) de seus afetos”. ." (Charaudeau, 2007, p.245). Ao nos depararmos com o nosso outro deve-se buscar tocar a sua “alma”, as emoções do nosso ouvinte, para que o embate no discurso seja vencido por nós, pois a finalidade do discurso no direito internacional é vencer o embate discursivo que ele apresenta. os atores na construção do Relacionamento. Ele diz que devemos recorrer a estratégias discursivas que toquem os sentimentos dos outros, devemos seduzir ou, pelo contrário, temer. Devemos provocar adesão ao nosso ponto de vista, devemos trazer para o nosso lado os assuntos que impingem, mais do que outro, como é muito comum no direito internacional entre Estados e sociedades internacionais. A preparação para o embate discursivo deveria fazer parte do currículo das nossas faculdades, ou pelo menos dos cursos preparatórios para o direito internacional, muitas vezes vemos pessoas despreparadas cedendo à chantagem em vez de dominarem a cena. (Charaudeau, 2007).

c. Sobre a questão de como organizar a descrição do mundo que propomos/impomos ao outro, ele diz que ela se dá de um lado, descrevendo e narrando os acontecimentos e do outro explicando como e por que esses acontecimentos. Para isso devemos organizar o discurso, numa narrativa racional (direito inteligente), como argumentativo (direito intuitivo), e enquanto fazemos isso, laçamos a possibilidade de nos juntarmos a outro através do reconhecimento dos argumentos. (Charaudeau, 2007).

  Levando em conta a dinâmica do direito inteligente e do direito intuitivo, formei os significados e expressando-se através do discurso e o mundo está sempre em movimento, no meu artigo “O Direito e o Pathos: As emoções na fala” (Oliveira, 2011) demonstram que, segundo Mendes e Mendes (2005), Charaudeau propõe “banalizar as condições de um estudo discursivo das emoções, com uma abordagem que situe a análise do discurso das emoções numa pertença retórica, preferindo o termo pathos, o termo emoção” como diz, “a patemização pode ser tratada como sentido e, portanto, deve ser tomada numa mudança de contexto, de acordo com o interlocutor e as representações parceiras subjacentes a essa troca” (Charaudeau, 2007).

  O que nos faz entender que o direito de análise do discurso exige a compreensão dessa relação de troca entre enunciador/enunciatário e enunciatário/enunciador, permeada pelos “valores” que circundam a vida e o tecido social que circunda esses dois sujeitos atores.

revela ainda Mendes e Mendes (2005) que três princípios fundamentam esta análise:

1- O pathos é intencional (intuitivo-inteligente), e direcionado a um objetivo (direito internacional), tem objeto e sujeito definidos para atingir (atores do direito internacional).

2- O pathos, as emoções, está ligado aos valores do sujeito (direito intuitivo), às suas crenças e aos valores socioculturais do sujeito (relação já retratada por Bakhtin).

3- O pathos é uma representação dos sentidos, é a tentativa de tornar as emoções “tangíveis” (entrar no objeto).

  O discurso da direita,aqui tratado sob a ótica das emoções, do pathos, nos leva a compreender que o embate discursivo do direito envolve, além do ethos, que não apenas SERia, mas teria OPINIÃO, e logos, a razão pela qual seria o mais sublime objetivo de todo jurista, e pathos, emoções não psicológicas, humores, mas signos portadores de significados reconhecidos por outro sujeito de comunicação/relacionamento.

  Para Charadeau (2007) o embate da direita está no discurso, é o embate de ideias entre enunciador/enunciatário e enunciatário/enunciador quando um de um lado tenta provar sua “verdade” perante o outro. Nesse contexto, quero dizer que GUY deveria usar palavras que tragam mensagens que possam transmitir-lhes os sentimentos do outro.

  Charaudeau (2007) faz uma análise da própria comunicação quando diz que o discurso passa primeiro pela esfera da comunicação no meio social do sujeito, é o comunicante ou o sujeito interpretante, e esta esfera de construção dos sentidos, o sujeito comunicante emitirá suas palavras de acordo com sua vida social e o intérprete as interpretará de acordo com sua vida social.

  O ato de comunicação não pode ser entendido então como um ato de um, e nem como um ato de dois, um processo simétrico, estático e morto, mas sim um ato de comunicação onde o implícito e o explícito estão em jogo. Ele diz:

   i) o discurso nascerá de circunstâncias discursivas específicas. Os fatos que levaram os sujeitos a encontrar no discurso.

   ii) será realizado no ponto de encontro dos processos de produção e interpretação. Surge contatos, pontos em comum, mas que podem ter significados diferentes para o sujeito quando entramos nos dois níveis de comunicação aqui propostos: o direito inteligente e o direito intuitivo.

   iii) será encenado por duas entidades, dois sujeitos, divididos em sujeitos de fala e sujeitos agentes. O Eu e o Tu não são os únicos a participar do discurso. Quando eu pronuncio, ele pensa que está falando com um Tu, diz Charaudeau, ideal, que você será receptivo e acrescentado, presa fácil. Mas você se revela mais do que parecia, com conceitos inesperados, questionamentos, intransponíveis porque possui conceitos internos tanto de sua esfera social, de criação (inteligente), dos conceitos criados por ele (intuitivos) de todas as circunstâncias pelas quais passou, foi ensinado, que apresenta o seu interior, não aquele que você almeja, mas um Subjetivo. O mesmo agora equivale a que eu acompanho o mesmo movimento... Por esse motivo o certo está se movendo, e não pode ser interpretado como estático, eu vim, vi, e conquistei... Você pode vir, você vê, entender a fala errada , fale de maneira errada e perca o embate discursivo. (Charaudeau 2007)

A autora diz que o espaço interno e onde está dentro dos seres de fala, que é o mundo das palavras, onde está o enunciador-enunciatário (I-tu) e que seu conhecimento está intimamente ligado às representações das práticas sociais, que são as situações de fala (Charaudeau, 2007).

  Mas o espaço externo, está ligado ao mundo social, que é a experiência, onde ocorrem as situações de comunicação. Como exemplo, uma ilustração para entender quando duas pessoas travam uma reunião discursiva: Na década de 80, a igreja estava enviando muitos missionários para nações indígenas, aqui o lugar como nações, como é um relacionamento internacional se eles se atrapalharem como tal, e eles enviaram uma missão de evangelizar uma tribo, mas eles não falavam a língua missionária nem ele a deles, realmente deveriam aprender a língua e os costumes, só para depois começarem a traçar um discurso com aquele povo. Já anos mais tarde, vivendo entre eles, falando e traduzindo, senti-me capaz de travar um discurso com alguns membros daquela aldeia. Ele começou dizendo que eles foram criados por Deus, ele era na sua cultura um Deus criador e que os amava. O significado do amor estava presente em sua cultura, mas quando questionados aos missionários onde morava o seu Deus: Ele, na posição que estava, embaixo de uma árvore, apontou para o céu e disse, é lá onde Ele mora! Não sabendo a palavra para céu, na língua deles, ele perguntou ao sujeito-índio, e o sujeito, você, lhe deu uma resposta começou a usar. O missionário, pensando ter convencido seus súditos, ficou satisfeito, mas notou que logo depois disso não lhe deram mais atenção. Ele perdeu a atenção que havia conquistado ao longo dos anos de trabalho missionário. O que aconteceu? Revisitando seu discurso, descobriu que quando apontou para o céu e perguntou ao índio qual era a palavra para céu, o índio olhou para onde ele apontava e viu que a direção de seu dedo era uma teia de aranha. Ele disse então que céu significava: teia de aranha. Cada vez que o missionário falava onde Deus morava, eles, os índios, entendiam que Deus morava na teia de uma árvore próxima à tribo.

   A direita é dinâmica, veja o que diz Savoy sobre as relações internacionais (2010): “Deve-se notar, porém, que, sendo as relações internacionais um campo dinâmico, mesmo quando opera sobre os instrumentos e padrões existentes, o diplomata atua no que contribuímos, às vezes através da prática do Estado que representa uma evolução da norma ao longo do tempo e se adapta às necessidades contemporâneas.A Convenção de Viena sobre o Direito dos Tratados (VCLT), art. 31, 2 (b), lista entre os critérios de interpretação de tratado à “prática subsequente de aplicação do tratado que estabeleceu um acordo entre as partes quanto à sua interpretação”. dispositivo complexo." (ISERE, 2010).

   O dinamismo do direito, traz a necessidade de aprimorar o campo discursivo com ênfase no pathos, nas emoções. Eles se conhecem, sabem o que traz lembranças boas e ruins, o que realmente pensa o cara que quer me convencer ou ser convencido pelos seus e pelos meus argumentos, com base no que ele sabe e no que ele criou ao longo do tempo. Nas relações, a luta jurídica nas organizações pode ter e terá uma forte vantagem para quem domina os recursos discursivos que se apresentam.

  Relatar é conquistar o direito de falar, comunicar não é só informar, mapear objetivo do objeto, mas comunicar também é convencer, persuadir o outro dos meus argumentos, trazer à luz meus sentidos juntos a ele, comunicar também é seduzir , seduzir e atrair, convencer pelas emoções, as relações que tornam os parceiros de fala, seriam os pontos que nos unem e não os que nos separam.

  Pois as relações em seu aspecto discursivo têm êxito, para resolver o que Charadeau (2010) chama de Acordo de Comunicação.

  ele diz que “a noção de contrato pressupõe que indivíduos pertencentes ao mesmo corpo de práticas sociais, têm probabilidade de chegar a um acordo sobre representações linguareiras dessas práticas sociais” (CHARADEAU, 2009). Mendes (2009) diz-nos que todo ato de comunicação faz parte de um quadro pré-estruturado, porém, o quadro varia de acordo com o qual a situação está inscrita. A situação é descrita em quatro palavras:


O. O propósito das trocas: Quais são os objetivos que fala do discurso? Que assuntos desta relação internacional visam em seus discursos? Quais são seus propósitos?

B. A identidade dos sujeitos Quem é quem? Quem é o enunciador, quem é o enunciatário e em que momento se tornou o outro?

c. Qual é o propósito? O tema do discurso, falar o que é esse discurso?

d. O dispositivo-fala em que imagem? (MENDES, 2009)

Charaudeau (2010) diz que a comunicação é um ato que surge de uma aposta dupla: (i) o sujeito falante espera os contratos que propõe ao outro, o sujeito-intérprete será por ele percebido e (ii) também espera as estratégias empregadas na comunicação em questão produzirá o efeito desejado. (Charaudeau, 2010, p.57).

  O que ele diz é que todo esse discurso que a gente propõe deve ser aceito pelo outro, deve ser concretizado, caso o outro não perceba, se não entender o contrato que está sendo proposto, e depois criticado, pode por todos perder.

   Não só conhecemos o objeto objetivamente, mas também o conhecemos subjetivamente, pois um direito não entra no objeto, não conhecendo em seus contornos e sentidos, poderá perder a luta discursiva por não compreender os circuitos da linguagem (CHAURADEAU 2008)

Sandro Rogério de Oliveira Souza

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